A lição da natureza
Se a natureza fosse uma pessoa, teríamos, todas as manhãs, que lhe agradecer pelas lições que nos dá. Passar pelo que nós chamamos as suas “revoltas” (ela não tem sentimentos, nem alegrias, nem fúrias). Apesar de tudo, esquecer o mal que faz ao homem no momento de certas catástrofes ditas “naturais” que caiem sobre a humanidade como uma calamidade de não se sabe que divindade escondida (castigo no Nepal ou no Paquistão?!). Não, é preferível escutar a sua lição essencial que se baseia no optimismo.
Nada de panteísmo, claro, na observação do que ela nos mostra. Mas a estação que vivemos, apesar das suas contingências e das “margens de manobra” que nos dá o céu – estranha esta primavera, dizem alguns! – é o momento certo para treinar o positivismo, perguntem aos especialistas, se a chuva não é o bom tempo?!- Nenhuma debilidade na natureza. Nunca uma desfeita definitiva, uma morte sem frases: ela recomeça sempre, renasce, cresce novamente.
Assistir à eclosão de uma glicínia ou de uma madre-silva profusa onde só víamos, ainda há pouco tempo, alguns ramos entrelaçados, quase secos, deixa-nos em contemplação. Constatar que uma roseira nos oferece flores perfumadas e novas sem fim. Observar a verdura nativa das tílias ou dos freixos. Ouvir, pela aurora as aves que passaram o inverno a chamar, alegremente, umas pelas outras. Meter as mãos na água clara de um riacho que salta de pedra em pedra. Tudo isso que não deveria surpreender-nos, alegra e significa que, nunca, se deve acreditar no carácter definitivo do inverno.
Muitas lições para tirar deste ensino, para si e para a atualidade. A primeira é que este resultado, a primavera florida, chega depois duma longa paciência e que, se estas maravilhas nos são propostas é porque foi preciso, antes, no ventre do solo e no espasmo do frio, sofrer alguns momentos de dúvida. A Alternância das estações, invenção de génio, é um convite à espera, à paciência, ao sombrio, à reflexão. Desde que nascemos, uns e os outros, este ritmo nunca nos faltou. Sempre houve primavera e voltará sempre, preparando a sonolência deliciosa do verão.
A natureza, professora da vida…
Adriano Valadar, 10.05.15